sábado, 10 de novembro de 2012

Défice Democrático

As últimas eleições legislativas em Portugal ocorreram no dia 5 de Junho de 2011 pelo que ainda não se passou sequer um ano e meio dos 4 anos de mandato a que corresponde a legislatura.

Muitas vozes se têm levantado e muitos textos têm exigido na Comunicação Social a demissão do Governo, a substituição deste Governo através da iniciativa Presidencial, entre outras soluções com vista a interromper o mandato deste governo.

Os tempos que vivemos são, “finalmente”, de crise a sério. A crise de que ouvimos falar há uma década bateu-nos finalmente à porta. Com todas as suas dores, cortes e inseguranças. É agora sabido por todos que não podemos viver com recursos que não temos. Que temos de poupar, de investir com qualidade. De racionar, para que se invista no que é prioritário para tentar inverter a trajectória e regressar ao rumo do crescimento.

Todos sabíamos que iríamos pagar mais impostos, receber menos salários e teríamos de trabalhar mais se queríamos manter os níveis de riqueza a que nos habituámos. Ou não?

Muitos dos que se revelam a favor de uma queda do Governo são destacados líderes partidários e senadores da nossa República outrora actores directos da vida política nacional e também eles participantes do jogo da Democracia.

Ainda me espanta e surpreende verificar o enorme défice democrático destas pessoas, bem como de dirigentes e membros partidários das mais variadas cores e hierarquias que apelam à negação do que foi democraticamente expresso nas urnas.

Qual o sentido em interromper antecipadamente o ciclo de um Governo, uma missão, que, naturalmente, só conseguirá concretizar os seus objectivos, enunciados antes das eleições, após o ciclo político para o qual foi empossado? Mais uma vez parece que a urgência da visão limitada de curto prazo e os anseios de poder condicionam e prejudicam a visão de longo prazo que deve ter a governação de um país que se quer próspero e sustentável.

Podemos discordar da maneira como o Governo está a actuar. Seguramente nunca iríamos concordar com todas as suas decisões. Mas, o povo Português escolheu um caminho, os seus representantes e as suas ideias. Não se lhes pode negar agora a oportunidade de concretizar as suas soluções.

Não existe sentido na Política quando os seus mais directos intervenientes negam a democracia que dizem defender. Algo tem de mudar, mas não a Democracia. Precisamos de uma nova atitude ou de novos participantes no jogo Democrático.

Nuno Gaudêncio

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