sexta-feira, 12 de março de 2010

Romper com o passado

Há vida para além do Plano de Estabilidade e Crescimento. Este, mesmo que fosse ambicioso, não chegava para resolver os problemas do País. Vai haver agitação social: os sindicatos mostraram, com mais esta greve da Função Publica, não terem qualquer interesse no futuro de Portugal.

Habituados a defender os "direitos adquiridos" das suas clientelas, não querem fazer outra coisa. Só sabem gritar por mais dinheiro e menos trabalho. Até agora, todo o ajustamento tem sido feito no sector privado: não há notícia de um desempregado do sector público. Podiam ter tido vergonha e não ter feito a greve, porque infelizmente no sector privado o desemprego continua a crescer e os salários em atraso a aumentar. O assunto não lhes interessa.

Mas devia interessar: é o sector privado, e aqui, sobretudo, são as gerações mais novas quem sustenta os "direitos adquiridos" tão queridos aos sindicatos. Só que esses "direitos adquiridos" são insustentáveis. Portugal precisa das reformas estruturais. Sem elas, não há PEC que nos valha. Todos nós, portugueses, precisamos de nos unir: Governo, sindicatos, empresários, professores, estudantes, trabalhadores precisam de sentar-se a uma mesa e desenhar um plano. Um plano que nos ofereça um futuro melhor cá, em vez de levar os nossos jovens mais qualificados a emigrar - 30 mil por ano, em média, abandonam Portugal.
Ora, se esta tendência se mantiver, todo o estado social ficará em causa. É urgente que isso se perceba. É bem melhor uma sociedade mais meritocrática, mais exigente, mais liberal e mais competitiva do que a morte lenta a que parecemos condenados. Sem crescimento económico não há estado social.

Ficar e lutar significa conseguir um amplo consenso da sociedade portuguesa no sentido de fazer verdadeiras reformas: da lei das rendas; das leis laborais; da justiça; da saúde; da educação... Significa menor estado e melhor estado. Vai doer. Vai. Mas vai ser muito pior se nada fizermos. É altura de romper com o passado: conservar o que é bom e sustentável e mudar o que tem de ser mudado.

João Caiado Guerreiro, advogado.



Nota: este texto foi publicado no Jornal Oje do dia 10 de Março sob a coluna de opinião: "Causa Justa". O João Caiado Guerreiro, a quem expressamos novamente o nosso agradecimento, acedeu amavelmente ao nosso convite para nos ceder o mesmo à publicação em 1PortugalMelhor.

Nuno Gaudêncio