sábado, 9 de julho de 2011

As agências de rating:

S&P, Fitch, Moody's não são o nosso principal problema. O nosso maior problema reside no excessivo endividamento externo, público e privado. É muito fácil culpar as agências pelo estado a que chegámos, mas, quem senão "nós" os responsáveis pelo aumento louco do volume de crédito a que recorremos e que ameaça colocar uma corda ao pescoço de Portugal?

Já se sabe desde há muito - vide 2008 por ex. - que as agências de rating são amorais e movidas por interesses que são os seus - privados - e os de mais ninguém. Ora, sabendo isto de antemão, causa impressão ver a indignação de pessoas inteligentes e com cargos de responsabilidade vir agora criticar o sistema sem assumir as responsabilidades de o mudar.

Quando a Europa se deixa subjugar às "opiniões" destas três empresas, algo está mal, mas já vem de trás, e então, qual é o espanto? Só agora acordaram para a vida? Associar a possibilidade de investimento em dívida aos ratings conferidos por agências privadas (ex. permissão de compra única de "triple As"), o que provoca um sistema de vendas automáticas dos investidores em caso de downgrade é conferir um rastilho de pólvora que estas empresas facilmente acendem incendiando o mercado com vendas massivas que instalam o pânico e descem abruptamente o valor dos activos.

Depois claro, um país obrigado a vender - a privatizar - é penalizado pelo baixar súbito e incontrolável do mercado.

Há de facto muitos interesses em jogo mas, não será uma Agência de Rating Europeia Independente (uma contradição em si mesmo) a solução.

A solução deverá passar por melhor regulação, por maior responsabilidade de organismos oficiais como os Bancos Centrais. E claro, a solução passará também, e claro, pela redução dos gastos dos estados, e pela diminuição da alavancagem das famílias e empresas até níveis equilibrados.

Não será fácil resolver o problema dos défices dos estados e das dívidas soberanas... mas será seguramente mais fácil culpar os outros dos nossos erros e problemas.

Nuno Gaudêncio